Quem acompanha o Mundial de Clubes desde as primeiras edições conhece o Auckland City. Figurinha carimbada da Oceania, o clube já participou de 12 edições do torneio entre continentes e quase chegou a uma decisão. O que muitos não sabem, porém, é que sua gestão é amadora, com direito a professores no elenco, e já foi alvo de polêmicas na região por jogos de azar.
A equipe é a única do Mundial de 2025 com esse modelo de direção e será responsável por um contraste interessante na primeira rodada: eles enfrentam o poderoso Bayern de Munique, que é referência mundial de gestão profissional e de SAF, aspecto do futebol tão discutido em solo brasileiro nos últimos anos. Na prática, como funciona o modelo e por que o clube já foi contestado em seu país?
O Auckland City Football Club está sediado na cidade de mesmo nome, a maior da Nova Zelândia, e é hoje o principal time não só do país como do continente. Para se ter uma ideia, os Navy Blues, como são chamados, faturaram as últimas quatro Liga dos Campeões da Oceania – e só não foi mais porque o torneio foi cancelado em 2020 e 2021, devido à pandemia de COVID-19.
Se puxar pela última década, o histórico é ainda mais dominante: com títulos em sequência de 2011 a 2017 – resultando em 13 conquistas no total – e participações no Mundial de Clubes. Engana-se quem pensa que o time sempre foi "saco de pancadas". Mesmo com gestão amadora, chegou às semifinais em 2014 e deu trabalho ao San Lorenzo naquela chave, perdendo somente na prorrogação. Por pouco não enfrentou o Real Madrid.
Como funciona a gestão amadora do Auckland 2n3k5v
A principal diferença está na dedicação do elenco. Diferentemente do futebol brasileiro, por exemplo, em que a profissão dos atletas é ser jogador de um clube específico, o plantel do Auckland City é composto por pessoas com outros cargos fora do esporte. O time tem, por exemplo, professores, vendedores e corretores imobiliários, como relatado pela AFP.
Assim, eles não são pagos pelos serviços contribuídos aos Navy Blues, e fazem parte do elenco, justamente, pela paixão ao esporte. O resto dos gastos compõem-se de viagens para compromissos da equipe, manutenções istrativas, gastos com staff e até com ações do esporte. Em Auckland, alguns jogadores dão aulas de futebol em comunidades.
Não receber salários não significa que não há nenhuma ajuda financeira do Auckland City para o elenco. De acordo com a rádio sa RFi, atletas amadores recebem um incentivo de 150 dólares neozelandeses semanais (cerca de R$ 504 em conversão direta) para gastos básicos, como o de academias.
Diferentemente de uma gestão profissional, porém, a diretoria atua de forma voluntária e o clube não tem orçamento fixo, o que influencia no planejamento de metas e balanço financeiro. "Isso muda completamente o jeito de trabalhar no dia a dia e influencia nos resultados", contou à ESPN Claudio Fiorito, CEO da P&P, agência que cuida da carreira de atletas como Vitor Reis, ex-Palmeiras e hoje no Manchester City, e Romelu Lukaku, do Napoli.
"O Auckland City é um bom exemplo de como uma estrutura amadora pode ter bons resultados, mas ainda assim enfrenta muitas limitações. No Brasil, vemos situações parecidas em clubes tradicionais que, mesmo com torcida e história, ainda funcionam na base da paixão", acrescentou o dirigente. De fato, mesmos instituições profissionais no país ainda têm diretorias voluntárias, por exemplo.
Independentemente do país, os clubes amadores sobrevivem de doações, ajuda da comunidade ou pequenos patrocínios. O time neozelandês é, há muitos anos, beneficiário do programa "Trillian Trust", sociedade que "distribui ações a grupos comunitários locais", como especificado em seu site. Essa afiliação é, até hoje, tema de muito debate no país da Oceania.
Não é preciso ser um "CLT" na Nova Zelândia para fazer parte do elenco, já que alguns atletas que até estarão no Mundial de Clubes e que devem ser relacionados para o confronto com o Bayern conciliam a vida no futebol com estudos. É o caso do zagueiro de 21 anos, Adam Bell, que prestará um exame na universidade dois dias após o jogo deste domingo.
Em suma, os gastos de um clube amador não são relacionados diretamente com os jogadores, mas para manter a instituição que gere, hoje, aproximadamente 400 atletas e 12 times, incluindo o principal, que já está nos Estados Unidos, e esquadrões de base, que vão do sub-13 até o sub-23. Ainda, o clube apoia o futsal tanto masculino quanto feminino com a NRF (sigla em inglês para Federação Regional do Norte).
Rivais já questionaram amadorismo 6w3h1o
Apesar da história chamar a atenção no Mundial de Clubes, o Auckland City não foi unanimidade na Nova Zelândia ao longo de sua história. Por lá, sua dominância já foi vista por alguns rivais como oriunda de vantagens injustas. De acordo com o jornal neozelandês Sunday Star-Times, o clube teria arrecadado quase US$ 785 mil (cerca de R$ 4,35 milhões na cotação atual) com caça-níqueis na década de 2010, reados pelo programa "Trillian Trust".
Esse valor, segundo a mídia local, era mais que o dobro do arrecadamento de qualquer outra instituição da liga nacional e 25 vezes mais do que times de menor porte. Esse dinheiro, logicamente, não teria sido determinado para pagar salários, mas os já citados gastos com viagem, manutenções istrativas e como pagamento para jogadores realizarem ações comunitárias.
Um paper da "Hapai Te Hauora", associação pública local de saúde, indicou mais de US$ 600 mil que teriam sido concedidos através de jogos dessa natureza no começo da década de 2020. Todos os valores reados podem ser checados em balanços públicos da sociedade.
Isso não se configuraria como uma prática ilegal, porém, pois os jogos de azar são regulamentados na Nova Zelândia desde 2003, quando foi consolidado o "The Gambling Act", ou "A Lei do Jogo", em português. Essa "guerra" de acusações, no entanto, estende-se a questionamentos se o Auckland City e outros clubes de topo realmente não pagam salários aos atletas, mas fica no campo da especulação.
Consultando os balanços financeiros do "Trillian Trust", a ESPN confirmou que, de fato, o Auckland City é o clube de futebol que mais recebe da sociedade. Totalizando os meses de fevereiro, março, abril e maio de 2025, foram US$ 233.211,52 em rees aprovados ao clube. O segundo que mais recebeu foi o Central United, que também disputa o Campeonato Neozelandês, com US$ 143.159,10
Grupo e jogos do Auckland City no Mundial 455zz
O Auckland City FC estreia no Mundial de Clubes neste domingo (15), às 13h (de Brasília) no que será, provavelmente, o jogo mais difícil do Grupo C, contra o Bayern. Na sequência, enfrenta o Benfica em 20 de junho e fecha a participação na primeira fase contra o Boca Juniors, no dia 24.
Caso avance em primeiro na chave, enfrenta o segundo colocado do grupo D, composto por Flamengo, Chelsea, Esperance e LAFC. Se ar na vice-liderança, enfrenta o vencedor da mesma chave. Os jogos da equipe na fase de grupos serão no TQL Stadium, em Cincinatti, no Estádio Inter&Co, em Miami, e no GEODIS Park, em NashVille.